terça-feira, 12 de abril de 2011

Estabelecendo limites

Oi, filho!! Mais um texto escrito durante a nossa visita à Califórnia. Queria te contar um pouco como estão sendo as nossas primeiras experiências em te convencer daquilo que você não quer fazer :-)

Antes de sairmos do Brasil tínhamos quase desistido de andar de carro com você, já que te convencer a ficar na cadeirinha parecia impossível. O vovô Geraldo nos deu um mini-curso de como fazer isso, mostrando para você que a cadeirinha era o melhor lugar do mundo. Ainda assim isso estava meio difícil.

Aqui, como os californianos só vão aos lugares de carro ficamos com a missão de não só te convencer, mas também de aprender a andar sozinhos de carro com você (a mamãe mais que o papai nesse caso). Começamos trocando a cadeirinha que trouxemos, depois de concluir que ela vinha com pregos e alugamos uma cadeirinha nova na mesma empresa onde alugamos o carro. Você até pareceu gostar, por 5 minutos. Depois os pregos nessa cadeirinha nova também apareceram. Tivemos que nos convencer que essa era a primeira contrariedade que tínhamos que fazer com você. Com um pouco de insistência no começo e umas propinas na forma de biscoitos, começou a funcionar. Agora você reclama para começar a andar de carro, depois curte o passeio. Hoje tirou até uma soneca indo para San José.



A segunda contrariedade, descobrimos depois, é a cadeirinha de alimentação. Como aqui não temos alguém para nos ajudar nas refeições, não tivemos escolha a não ser colocar você na cadeirinha e te convencer que ali também era o melhor lugar do mundo. O fato de que ali tinha um cinto de alguma forma parecia não ajudar. As propinas aqui mudaram, um aplicativo no telefone do papai chamado "Tom the talking cat" foi o mais bem-sucedido, mas aí o telefone do papai começou a não funcionar mais, talvez devido ao excesso de papinha que ele acabou recebendo. O sinal de fracasso em uma refeição vinha quando, ali pelo meio do que esperávamos fosse o tempo da refeição, você começava a passar a perna pelo cinto e indicava que ia continuar a refeição em outro lugar. Eu admito que apertei o cinto até bastante uma vez, mas isso pareceu não contribuir para fazer com que a cadeirinha se tornasse o melhor lugar do mundo.

As distrações necessárias para as refeições tem variações quando estamos em restaurantes. Te dar pão já é um padrão, mas ficamos com medo de você criar hábitos ruins de alimentacão e assim descobrimos o quanto você gosta de brócolis. Hoje a novidade foi que tomates também nos permitem umas garfadas a mais. Enquanto te escrevo ainda estamos tentando, a mamãe teve uma boa idéia ontem. Ao invés de darmos a refeição no quarto fomos para o restaurante do hotel e usamos todos os demais hóspedes como distração, funcionou tanto que hoje decidimos jantar por lá novamente. Tomara que amanhã tenha bastante gente por lá.



Mais uma contrariedade veio da nossa insistência em também almoçar. Como a mamãe está almoçando no hotel com frequência ela (depois de te dar comida, claro) põe o seu berço na cozinha, põe você no berço e come conversando com você. Você não costuma aceitar isso tranquilamente e solicita gentilmente que ela faça alguma coisa diferente. As propinas nesses casos são brinquedos, frutas, escovas de dente, chaves, telefones celular, cartões de plástico, panelas, ou praticamente qualquer outra coisa que você considere interessante naquele momento. Isso, somado com uma habilidade de almoçar com poucas garfadas que a mamãe tem desenvolvido, tem mostrado algum resultado.

Também nos divertimos com as habilidades que você desenvolve em resposta á nossa insistência. A minha favorita é quando você muda de assunto. Nós dizemos a você, por exemplo, que não pode ficar em pé na cadeirinha de alimentação. Você bate palmas, tentando nos convencer a mudar de assunto e voltar a te dizer o quanto você é lindo e carismático. Outra que está ficando mais frequente é que você repete a nossa negação, nós dizemos que você não pode fazer alguma coisa e você repete o não, indicando que gostaria que parássemos de bloquear as suas iniciativas para que o seu desenvolvimento como ser humano possa prosseguir.

Acho que o grande desafio para nós é o desejo de te deixar sempre muito feliz, tentando eliminar qualquer fonte de dor ou tristeza que você possa sentir. De repente nos deparamos com pequenas limitações nossas (ter só dois braços ou não poder andar a pé os 8 quilômetros até o parque todos os dias) e precisamos nós mesmos impor coisas a você e causar um pouco desta tristeza. Algumas vezes vemos claramente que a sua reclamação é só manhã e que passa só com um pouco de insistência nossa. Outras vezes você chora e verte lágrimas que nos fazem pensar que estamos exagerando. Acho que esse é só o primeiro passo no nosso aprender a ser pais, sinto que ainda teremos muitos momentos em que vamos precisar trocar a sua alegria imediata por algo que acreditemos ser importante para você (ou nós) no longo prazo.

Um comentário:

  1. Estou adorando seus textos,sei muito bem como é almoçar com o Guizinho.....Bjs

    Cris

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